quinta-feira, 17 de abril de 2008

Meus olhos pelo mundo, eu mesmo levo...



Primeiro encontre, depois procure...


"A vista chega antes das palavras.
A criança olha e vê antes de falar"
John Berger




Muita coisa muda o tempo todo no mundo no acelerado e incansável mundo novo.
E a compressão do espaço-tempo da vida pós-moderna cria outras formas de viver, observar e ver o mundo. Na verdade, as experiências nossas de cada dia, não nos permitem mais a velha prática contemplativa, e parecem conspirar contra a atenção concentrada e a reflexão filosófica sobre as coisas do mundo. Parece que somente nos resta o exercício esquizofrênico do presente vertiginoso, que mesmo assim, nos escapa entre os dedos e lentes. Nada mais parece apreensível, localizável e estável. Tudo que é liquido, escorre para logo depois evaporar. Olhares liquefeitos, vivências fugazes, leveza das formas, fragmentos de vida se desmanchando no ar, diante de nossos olhos desatentos. Tudo sem tempo e lugar, nada tendo duração ou identidade. Isso significa que estamos condenados a arrância niilista? significa que estamos presos a uma lógica vazia e insana e qualquer tentativa de compreensão do que vivemos e somos é um ato precipitado e sem sentido? será que já não somos mais capazes de entender e interpretar o mundo que nos envolve e nos cerca?


Nos acostumamos a olhar e ouvir muita coisa, somos uma sociedade saturada de signos, imagens e sons, criamos um certo estranhamento em relação as coisas que permanecem e resistem no tempo-espaço. Na verdade, estamos desaprendendo a ver e escutar as coisas da vida.
Ver é olhar com os olhos da alma, escutar é permitir que os sons se realizem e façam eco dentro de nós. Ver e escutar são pontes que me ligam ao mundo e aos outros. Somente posso resistir a efemeridade das coisas e pisar e sentir a profundidade do mundo, se eu me permitir conhecer, ver e escutar, o seu mais nobre e rico habitante: o homem.
São eles (e somos nós) que povoamos de sentido e significação as coisas que nos cercam. Nós temos o domínio da direção, a chave que abre, os olhos sensíveis, a imaginação liberta e a consciência do mundo. Mesmo nos momentos de maior irracionalidade, pressa, instabilidade ou tensão, os homens deste celerado mundo novo, não perdem a sensibilidade e a desejo de entender a si mesmos e o que os cercam.
Temos um grande desafio: nos equipar para a expedição e périplo, abastecermo-nos para a longa caminhada, preparamo-nos para as escavações profundas, para a silenciosa mastigação do que encontrarmos, para desalinhavar pacientemente os nós que se fizeram nos ramos e retirar as pedras para perceber o que se esconde por debaixo delas.

Ser um explorador do mundo contemporâneo, do comportamento blasé, complexo e instável dos habitantes de seus grandes centros é um desafio hercúleo, mas nos resta a paixão, e nos resta também os olhos e a alma, e todo equipamento da imaginação filosófica e interpretativa. Ler o espírito de nosso tempo, desvendar os mistérios insondados do comportamento humano e buscar captar os movimentos, mudanças e tendências que se anunciam é um trabalho instigante e contínuo. Mas precisamos reaprender a lenta arte de tecer: escutar e ver, imaginar e refletir sobre o que somos e queremos.
Há diversas formas de olhar e diferentes maneiras de ver o mundo. O que precisamos é começar a fazer isso de fato. Observar em profundidade, buscar ajustar as lentes e buscar o foco, investigar e interpretar as pistas que nos são dadas. As respostas podem ser provisórias e pouco objetivas, mas estão mais próximas de nós que possamos imaginar.

A cidade e os grandes centros urbanos mundiais são grandes laboratórios abertos de análises do comportamento. O urbanitas é este indivíduo flex, multifacetado, camalêonico e andarilho. Se quisermos trabalhar com tendências precisamos saber que nosso lab é a rua. Bem vindos ao departamento de investigações sobre os fatos e acontecimentos do mundo contemporâneo. Seja nomade, caminhe calmamente, faça sua botânica no asfalto. Pisem no freio, desacelerem, soltem seus cintos, retirem suas viseiras, desçam de seus carros e gabinetes, mergulhem e venham explorar e ver as coisas em ' natura' ( gabinetes mofados e provas in vitro nos revelam pouca coisa da vida...).
Como diriam em bom inglês: open your eyes, open your mind. Vamos ver "What`Zon?"...

2 comentários:

AMA disse...

leio e releio e adoooro!

Sergio Lage Carvalho disse...

Obrigado...
Adoro quando escrevo para emocionar e não para doutrinar...

kiss